Há causas, responsáveis e alternativas

A <i>troika</i> escondida

O me­mo­rando da troika es­tran­geira é o ver­da­deiro pro­grama de go­verno, mas os par­tidos que o apoiam não falam da po­lí­tica que se com­pro­me­teram a aplicar - acusa a CGTP-IN, ape­lando ao voto co­e­rente dos tra­ba­lha­dores.

O ca­len­dário do «acordo» ig­nora as elei­ções

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A cen­tral pro­moveu se­gunda-feira uma con­fe­rência de im­prensa, com o ob­jec­tivo de co­mentar o de­curso da cam­panha elei­toral, de­sig­na­da­mente quanto a pro­postas que têm sur­gido re­la­tivas a ma­té­rias la­bo­rais e so­ciais.

O Se­cre­tário-geral da CGTP-IN co­meçou por con­si­derar que «o ver­da­deiro pro­grama de go­verno pre­pa­rado para o País é o cha­mado en­ten­di­mento da troika, que tem con­teúdos e ma­té­rias con­cretas com prazos de apli­cação de­fi­nidos e com im­pactos duros para os tra­ba­lha­dores». Mas «este pro­grama não vem re­solver ne­nhum dos pro­blemas es­tru­tu­rais do País», sa­li­entou Ma­nuel Car­valho da Silva, apon­tando o que tem su­ce­dido no caso da Grécia, como ne­ces­sário alerta para se ter a noção de que a si­tu­ação em Por­tugal, com as me­didas do FMI, da UE e do BCE, será pior daqui a um ano.

«Basta de apelos a uma con­ver­gência na­ci­onal, para manter o sis­tema de al­guns se apro­pri­arem da ri­queza de todos e, de­pois, con­vi­darem o povo a pagar os roubos ou as apro­pri­a­ções in­de­vidas de ri­queza, que vão fa­zendo» - pro­testou o di­ri­gente.

Na cam­panha elei­toral, os par­tidos que apoiam as me­didas da troika «estão com­pro­me­tidos a aplicar uma po­lí­tica de que não falam». A CGTP-IN voltou a de­fender que não é pos­sível en­con­trar um fu­turo me­lhor para o País se não forem dis­cu­tidas as causas e os res­pon­sá­veis pela si­tu­ação ac­tual, e cri­ticou as pro­postas das mai­ores as­so­ci­a­ções pa­tro­nais, como a CIP, que vão sempre no mesmo sen­tido e nada acres­centam à so­lução dos pro­blemas. Car­valho da Silva também con­denou a in­sis­tência na re­dução da Taxa So­cial Única paga pelas em­presas, vol­tando a alertar para os pe­rigos que tal me­dida traria ao fi­nan­ci­a­mento da Se­gu­rança So­cial.

A cen­tral ex­primiu o seu pro­testo por, ul­tra­pas­sando o de­bate po­lí­tico, o voto dos por­tu­gueses, a to­mada de posse dos de­pu­tados e a for­mação do Go­verno, estar já de­fi­nido um ca­len­dário para apli­cação de me­didas in­cluídas no me­mo­rando de en­ten­di­mento, como su­cede com as al­te­ra­ções le­gis­la­tivas para re­duzir as com­pen­sa­ções por des­pe­di­mento, cujas pro­postas de­verão ser apre­sen­tadas em Julho na AR pelo Go­verno.

Ci­tando vá­rias pas­sa­gens do texto do en­ten­di­mento (fi­nal­mente com uma versão ofi­cial em Por­tu­guês), sa­li­entou que «esta é a ma­téria que im­por­tava dis­cutir com os por­tu­gueses neste pro­cesso elei­toral, e não as len­ga­lengas dos ven­de­dores de banha da cobra», de­sig­nação que abrange «os que apoiam, subs­crevem ou deixam passar o acordo».

A In­ter­sin­dical re­a­firmou a exi­gência de ac­tu­a­li­zação dos sa­lá­rios e re­pu­diou qual­quer ten­ta­tiva de, por pres­sões ex­te­ri­ores, con­gelar sa­lá­rios e con­gelar o sa­lário mí­nimo na­ci­onal. Nesta ma­téria e também quanto à re­ne­go­ci­ação da dí­vida pú­blica, que a CGTP-IN de­fende, Car­valho da Silva lem­brou de­ci­sões unâ­nimes do re­cente con­gresso da Con­fe­de­ração Eu­ro­peia de Sin­di­catos, que vão em sen­tido idên­tico.

 

Que de­pu­tados?

 

A re­alçar a «enorme im­por­tância» das elei­ções de 5 de Junho, o di­ri­gente da Inter frisou que pela As­sem­bleia da Re­pú­blica que delas re­sultar vão ter que passar os di­plomas re­la­tivos às graves ma­té­rias ins­critas no me­mo­rando de en­ten­di­mento da troika es­tran­geira e con­tem­pladas em afir­ma­ções pú­blicas de di­ri­gentes pa­tro­nais.

«Na AR é ne­ces­sário termos de­pu­tados que, na hora do pro­nun­ci­a­mento sobre os pro­blemas, as­sumam um com­pro­misso com os tra­ba­lha­dores, com o povo, com os in­te­resses do País e do seu de­sen­vol­vi­mento», de­pu­tados «que ja­mais se co­lo­quem do lado de grupos de in­te­resses es­tran­geiros ou na­ci­o­nais, contra o pró­prio povo, e que ja­mais se sub­metam ao pro­cesso de agi­o­tagem e de roubo or­ga­ni­zado contra a so­ci­e­dade por­tu­guesa» - disse Car­valho da Silva.

No do­mingo, «o voto pode ser uma ajuda à cons­trução de ca­mi­nhos novos, al­ter­na­tivos», daí o apelo da CGTP-IN aos tra­ba­lha­dores «para que votem» e a ob­ser­vação de que «a cada um de nós com­pete de­cidir, mas de­vemos pro­curar ser co­e­rentes, entre aquilo que é o nosso voto e aquilo que são as causas da nossa luta, de ontem, de hoje e do fu­turo».

 

O que in­te­ressa

«O que in­te­ressa aos tra­ba­lha­dores é im­pedir o re­tro­cesso so­cial, de­fender a pro­dução na­ci­onal, única forma de re­duzir a dí­vida, criar em­prego e di­na­mizar a eco­nomia; ga­rantir os di­reitos e uma justa re­par­tição da ri­queza; pôr fim à pre­ca­ri­e­dade e ga­rantir a cri­ação de em­prego digno para todos.»

 

«O pa­tro­nato e as forças de di­reita pre­tendem al­terar a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica, para po­derem li­be­ra­lizar os des­pe­di­mentos e li­quidar ou­tros di­reitos fun­da­men­tais. Para isso, pre­cisam de uma mai­oria qua­li­fi­cada de 4/​5 dos de­pu­tados, ou seja, pre­ci­samos de eleger os de­pu­tados su­fi­ci­entes para im­pedir este golpe cons­ti­tu­ci­onal.»

Fi­e­qui­metal/​CGTP-IN, 25 de Maio

 

Opor­tu­ni­dade da Edu­cação

«Dia 5 de Junho será a opor­tu­ni­dade para os pro­fes­sores, como para todos os por­tu­gueses, afir­marem, ine­qui­vo­ca­mente, que exigem in­ves­ti­mento na Edu­cação e de­fendem a Es­cola Pú­blica; será a opor­tu­ni­dade de afir­marem que dis­cordam de me­didas que com­pro­metem o fu­turo, in­cluindo o seu fu­turo en­quanto pro­fis­si­o­nais e ci­da­dãos; será a opor­tu­ni­dade de afir­marem que, com­pro­va­da­mente es­go­tadas as ac­tuais, pugnam por ou­tras po­lí­ticas para a Edu­cação.»

Fen­prof, 31 de Maio

 



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